CINEMA,LITERATURA E OUTRAS ARTES


gente,adoro fotografias...então...vejam que genial essa idéia...eu também adoro a lua...já pensou ter uma lua só pra mim?
"Private Moon", do fotógrafo
http://leonid-tishkov.blogspot.com/
não percam!



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DOIS POEMAS DE QUINTANA SOBRE O TEMPO, ESSE FIO ESCASSO QUE ESCAPA PELAS MÃOS...


 Quintana é um dos meus prediletos.Meu conterrâneo, guru e influência que sofro e que sempre sofrerei!
Todos passarão, só ele passarinho!


Ah! Os Relógios – Mario Quintana
Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológicos…
Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida – a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.
Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.
E os anjos entreolham-se espantados
quando alguém – ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são…
Mario Quintana )
(poema do livro A Cor do Invisível. 2a. edição. São Paulo: Globo, 2005. p.96.)

SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ªfeira…
Quando se vê, passaram 60 anos…
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente …
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

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Eu simplesmente a-do-ro cinema.Adoro filmes.Um de meus passatempos prediletos é ficar horas a fio vendo filmes que amo, na tv a cabo, na internet, no cinema, em dvd...como é bom assistir aos filmes que são verdadeiras obras de arte, não importa o tema.Que deixam uma mensagem, que de certa forma nos tocam, dialogam com nossa alma.Esses são os filmes imperdíveis e que vale a pena assistir novamente, se temos a chance.Nessa página do blog vou comentar vários deles, e também recomendar aqueles de que mais gosto.
Às pipocas e... bom filme!
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Para pessoas como eu, que curtem culinária,literatura e bons filmes...não deixem de assistir ao filme "Simplesmente Martha", a versão alemã, (Bella Martha).
Bella Martha, nome original do filme da diretora Sandra Nettelbeck, é uma produção alemã, lançada em 2001, que conta a história de Martha Klein, a obstinada e perfeccionista chef de cozinha de um refinado restaurante de Hamburgo.
Encontrei uma ótima análise e comentário do filme, em que os personagens são analisados em função da relação que estabelecem com a comida, com o prazer de comer, e com o prazer de viver e de se relacionar com as pessoas.Um ótimo filme,leve, interessante, de um lirismo cativante.Imperdível.

Ficha técnica do filme :

Simplesmente Martha

Título Original: Bella Martha

País/Ano de produção: Alemanha, 2001

Duração/Gênero: 105 min., Comédia

Direção de Sandra Nettelbeck

Roteiro de Sandra Nettelbeck

Elenco: Martina Gedeck, Maxine Foerste, Sergio Castellito,

August Zirner, Sibylle Canonica, Katja Studt, Antonio Wanneck,

Idil Üner, Oliver Broumis, Ulrich Thomsen.





Análise do filme:

ANÁLISE DO FILME “SIMPLESMENTE MARTHA”(BELLA MARTHA) ATRAVÉS DA VISÃO DE UMA ENGENHEIRA DE ALIMENTOS.




Logo nas primeiras cenas de Simplesmente Martha, encontramos Martha, no consultório de seu psicanalista, explicando minuciosamente uma de suas maravilhosas receitas. Embora o terapeuta a questione sobre os verdadeiros motivos que fazem com que ela o procure, Martha não percebe as razões pelas quais a dona do restaurante onde trabalha exige que ela faça terapia.

De fato, Martha dedica-se exclusivamente à arte de cozinhar e não percebe os extremos a que chega por exigir ou esperar o mesmo envolvimento e atitude de seus colegas de trabalho e até mesmo dos clientes do restaurante. Ela espera que os clientes apreciem os pratos com o mesmo rigor e perfeição com que ela se dedica a elaborá-los e, quando isso não acontece, Martha não se contém e extravasa toda sua insatisfação discutindo com quem não soube apreciar sua arte. Seu temperamento explosivo diante da crítica de alguns clientes cria situações embaraçosas no restaurante e por isso é que a dona do restaurante exige as sessões de terapia.

A vida de Martha é dedicada unicamente à sua paixão por cozinhar. E somente cozinhar. Martha sequer é capaz de saborear os pratos que prepara ou mesmo de se alimentar com prazer. Ela é uma mulher contida em sua vida pessoal e extravasa toda a sua emoção na cozinha do restaurante.

É nesta conjuntura, trabalhando muito, exigindo a mesma perfeição de si mesma, dos pratos que elabora e das pessoas com quem convive, que a inesperada morte da irmã transforma rapidamente a vida de Martha. Em função disto, Lina, a sobrinha de oito anos, passa a morar em sua casa. A menina, com o trauma sofrido pela morte da mãe, não quer se alimentar e Martha sente-se desafiada a fazer com que ela passe a comer. Apesar de preparar deliciosos pratos, Martha não é capaz de convencer a sobrinha a se alimentar.

A nova situação, desconfortável tanto para Lina como para Martha, exige certas adaptações e, assim, a menina passa a acompanhar a tia em seu trabalho e a conviver na rotina da cozinha do restaurante.

Por trás deste contexto, o filme gradativamente explicita a idéia de que Martha, ainda que exímia chef de cozinha, mas incapaz de se alimentar por prazer é, na mesma medida, incapaz de instigar Lina a se alimentar. Ao mesmo tempo, é possível perceber uma tímida correlação entre o prazer em saborear a vida e o prazer em saborear as refeições. Aqui, nos deparamos com a idéia de que, mais que nutrir o corpo, os alimentos nutrem a alma e relacionam-se com o modo de viver. Neste sentido, Garine (1987) lembra a frase de Brillat-Savarin: "dize-me o que comes e eu te direi quem és", ou seja, o modo como as pessoas se alimentam, o que é alimento, quando e com quem se alimentam, está relacionado com a forma com que os indivíduos vivem. E, entendendo que estas características são partilhadas, o desinteresse de Martha pela vida e pela comida se reflete na sua incapacidade de convencer a sobrinha a se alimentar e também de superar o trauma sofrido.

Ao negar o alimento, Martha nega não apenas o material, ou seja, as propriedades nutricionais, mas também, e, no contexto do filme, principalmente, as características imateriais dos alimentos, ou seja, nega a si mesma o prazer que oferece aos comensais do restaurante de saborear a vida através de requintados e saborosos pratos. Não sendo capaz de dar a si mesma tal prazer, tampouco pode estendê-lo a sua sobrinha. No plano simbólico, ao negar o alimento, nega-se também a vida. E é essa a questão central que o filme procura gradativamente explicitar.

Partilhando as reflexões de Fischler (1995), temos que o ato de alimentar-se segue o "princípio da incorporação", ou seja, o movimento através do qual os alimentos ultrapassam a fronteira entre o mundo, o externo, e o nosso corpo, o interno. Ao incorporar os alimentos, são incorporadas tanto as propriedades nutricionais como as simbólicas, o imaginário. No sentido biológico, incorporamos os nutrientes, a energia do alimento e, assim, mantém-se a estrutura bioquímica que organiza e dá continuidade ao corpo físico. No sentido simbólico, o alimento ingerido modifica o interior, já que no plano imaginário o alimento constrói o espírito humano e assim, pode modificar o estado do organismo, sua natureza e sua identidade. Nesse sentido, o autor, inspirado em Lévi-Strauss, afirma que chegamos a ser o que comemos.

Ao longo do filme, a relação entre saborear a vida e os alimentos vai se tornando cada vez mais clara. Diante dos problemas pessoais e das ausências que a nova situação acarreta para a vida de Martha, a proprietária do restaurante, contrata outro chef, Mario, um extrovertido italiano. Mário, ao contrário de Martha, leva a vida de uma forma tranqüila, leve. Na ausência de Martha, o novo chef transforma o sóbrio clima de trabalho da cozinha em um local divertido e agradável. Vale ressaltar: Mário não apenas cozinha, mas também saboreia os pratos que prepara.

A partir do antagonismo estabelecido entre as personalidades de Martha e Mário, é possível perceber a relação direta que o filme estabelece entre saborear a vida e saborear a comida. As atitudes e o modo de vida de Mário vão, aos poucos, transformando Lina, que continua a freqüentar a rotina do restaurante. Instigada ao ver Mário saboreando um apetitoso prato de espaguete, a menina passa a se alimentar. A partir desse momento, ela passa por transformações e demonstra estar superando a dor da perda de sua mãe. Martha, por sua vez, inspirada na leveza com que Mário vive e nas mudanças que percebe no comportamento da sobrinha, aos poucos abandona seu aspecto sombrio e fastidioso e passa também a se alimentar com prazer.

À medida que Lina e Martha degustam os alimentos, passam também a saborear a vida. Lina começa a se envolver na preparação dos pratos e a gostar de estar no trabalho de Martha. A menina triste e apática aos poucos se transforma em uma criança feliz. O mesmo ocorre com Martha que, embora continue exigente, passa a saborear os alimentos e torna-se mais feliz. Nesse ponto, evidenciam-se as propriedades não apenas nutricionais dos alimentos, mas também e, nesse caso, principalmente, as simbólicas. Os alimentos assumem aí a condição de nutrir o corpo e o espírito.



Referências

FISCHLER, Claude. El (h)omnívoro: el gusto, la cocina y el cuerpo. Barcelona: Anagrama, 1995.

GARINE, Igor de. Alimentação, culturas e sociedades. O Correio da Unesco, Rio de Janeiro, 15(7), p.4-7, 1987.



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* Fabiana Thomé da Cruz é Engenheira de Alimentos, graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Mestre em Agroecossistemas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
 E-mail: fabithome@yahoo.com.br





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Por ocasião dos protestos contra Belo Monte e contra as mudanças em nosso Código Florestal, uma dica é assistir a um filme inspirador.Não é um exemplo de técnica, nem é a melhor atuação dos atores, mas é baseado na história verídica relatada em livro e transformada em filme da ambientalista Kuki Gallmann,ainda hoje viva e atuante em seu rancho no Quênia.
Seguem abaixo as informações do filme e do livro.Às pipocas e boa reflexão.

ÁFRICA DOS MEUS SONHOS, autobiografia da ambientalista Kuki Gallmann, é a história verídica de uma mulher apaixonada pelo Continente Negro e pela vida selvagem, que escreveu suas memórias em homenagem às pessoas que amou e perdeu. E que agora as compartilha com os leitores com crua sinceridade.




Gallmann usa talento, simplicidade e elegância, para descrever as mais complexas e profundas emoções. Ela transforma os leitores em coadjuvantes e testemunhas de seu drama, numa narrativa que conta, com detalhes, seus mais íntimos sentimentos de perda e desespero pela morte do marido e filho em terras africanas. Kuki Gallman aborda, ainda, os perigos do privilégio colonial na África, a ganância por terras, minérios e pedras preciosas, as disputas religiosas, a matança indiscriminada de animais e o interesse desmedido pelas presas de elefantes e chifres de rinocerontes.



ÁFRICA DOS MEUS SONHOS conta a emocionante e trágica história de uma mulher européia nas savanas africanas. O livro foi lançado no exterior em 1991, alcançando a lista de mais vendidos e logo chamando a atenção dos produtores de Hollywood. O diretor Hugh Hudson se encantou pela história e a vida de Kuki virou película. Ganhou as telas do mundo inteiro com o rosto e o talento de Kim Bassinger, no papel da mulher que se mudou para um rancho na África, com o segundo marido e o filho do primeiro casamento. Após vê-los morrer enquanto estava grávida de seu segundo bebê, dessa vez uma menina , Kuki se viu sozinha num continente estranho e inóspito.



Para a autora, esse é o charme de ÁFRICA DOS MEUS SONHOS. O livro encanta justamente por ser triste e honesto. E por nos levar de volta ao continente do qual se originou a humanidade. "Sempre quis viver na África. Acho que era algo em meus genes", explica Kuki Gallmann.





Kuki Gallmann nasceu perto de Veneza e estudou ciências políticas na universidade de Pádua, na Itália. Fascinada pela África desde a infância, visitou o Quênia pela primeira vez em 1970 e voltou com seu marido e filho em 1972, dessa vez para ficar. Como tributo à memória deles, criou a Fundação Memorial Gallmann, com a função específica de construir no rancho em que vivia, em Laikipia, um programa de convivência harmoniosa entre o homem e o ambiente, através da exploração de novos meios de combinar desenvolvimento e conservação. A fundação promove e patrocina a educação de quenianos. Conservacionista atuante, em 1989 recebeu a Ordem da Arca Dourada, do Princípe Bernhard, da Holanda, pela grande e contínua contribuição para a preservação dos rinocerontes negros do Quênia e por promover trabalhos de pesquisa visando à conservação da natureza em geral, com atenção especial para os elefantes e o uso de plantas nativas para fins medicinais. Kuki mora no rancho Ol Ari Nyiro, no Quênia, com sua filha e oito cães.


"Se você ainda não leu nenhum livro este ano, leia este. É uma aquisição incrível." — Washington Post

Sobre o filme:

Ficha Técnica


título original: I Dreamed of Africa
gênero:Drama
duração:2 hr 0 min
ano de lançamento: 2000
site oficial: http://www.spe.sony.com/movies/jump/dreamofafrica.html
estúdio: Columbia Pictures Corporation
distribuidora: Columbia Pictures / Sony Entertainment Pictures
direção: Hugh Hudson
roteiro: Paula Milne e Susan Shilliday, baseado em livro de Kuki Gallmann
produção: Stanley R. Jaffe e Allyn Stewart
música: Maurice Jarre
fotografia: Bernard Lutic
direção de arte:
figurino:
edição: Scott Thomas
efeitos especiais:Mill Film



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O destaque desse mês não poderia deixar de ser o documentário indicado aos Oscar "Lixo Extraordinário" (Waste Land).
Finalista do Oscar 2011 concorrendo na categoria Melhor Documentário, o filme relata a trajetória do lixo dispensado no Jardim Gramacho até ser transformado em arte pelas mãos do artista plástico Vik Muniz.




Meu comentário:
Eu,que pensei que iria ver um documentário sobre a gestão ou ausência de gestão de resíduos sólidos num lixão e de suas consequências sociais para os catadores, me surpreendi pois vi muito mais do que isso: vi lirismo,vi poesia pura.A ótima trilha sonora de Moby, brilhantemente adaptada pela diretora Lucy Walker, mexe com a gente lá dentro.
Não há nada que eu possa dizer em palavras que possa explicar o que se senti ao assistir esse maravilhoso poema.
Simplesmente imperdível.E só.
acessem o site oficial do filme:
http://www.lixoextraordinario.net/

Ficha Técnica:
Título no Brasil: Lixo Extraordinário
Título Original: Waste Land
Ano de Lançamento: 2010
DIRETOR: Lucy Walker
Joaõ Jardim e Karen Harley
Categoria: Documentário
Origem: Brasil /
Reino Unido
Duração: 90 minutos.
Para conhecer mais sobre o filme vale a pena dar uma passadinha no site oficial do filme,principalmente não deixem de ler sobre o elenco!
http://www.lixoextraordinario.net/filme-elenco.php

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Um filme que recomendo:
 Chocolate
 adaptado do romance de Joanne Harris, dirigido por Lasse Hallstrím.
 título original: (Chocolat)
 lançamento: 2000 (EUA)
 direção:Lasse Hallstrom
 atores:Juliette Binoche, Lena Olin, Johnny Depp, Judi Dench.
 duração: 105 min
 gênero: Comédia


Meu comentário:
O filme retrata um pequeno vilarejo na França,onde vivem pessoas dominadas pelo prefeito,um nobre cheio de recalques e preconceitos.Ele acaba impondo a todos um jeito de viver em que a alegria e o prazer são totalmente inapropriados.Até os sermões da igreja passam por sua "revisão"-na prática é ele que os escreve.
A história é muito bem contada,a fotografia é impecável, e o roteiro, muito bem desenvolvido.
O preconceito também é abordado, pois todos aqueles que ousarem sair do "comportamento recomendado" pelo prefeito são alvos de boicote e de censura por parte de todos.
Que o digam Vianne (Juliette Binoche) e Roux (Johnny Depp) que são alvo de perseguições e rumores por não coadunarem com o jeito de ser instituído pelo domínio do prefeito/conde.
A loja de chocolates de Vianne traz toda a sorte de delícias, que acaba por seduzir boa parte dos cidadãos,e acaba por fim, promovendo uma grande terapia de grupo , fazendo com que todas as coisas mal resolvidas e pendentes entre as pessoas acabem por se resolver.O último a render-se aos encantos da loja de chocolate é o prefeito e conde, atormentado pelo "fantasma" da ex-mulher,que o abandona.Ele acaba por descobrir que a alegria e a felicidade que todos procuram no vilarejo é desejo dele também.
A atmosfera de magia aparece no modo como Vianne trata seus clientes, sempre adivinhando o chocolate e o recheio certos para os problemas de cada um.Também o encantador e sedutor Roux,um cigano pra lá de charmoso,com seu povo e costumes alegres,sempre com muita festa e música,trazem ao vilarejo a alegria perdida há muito.
Imperdível esse filme que, acima de tudo, trata de temas humanos e atuais,onde cada um de nós irá se identificar com certeza com pelo menos dois ou três personagens.
Bom filme!


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Freud, Jung, Alice, eu e você, através do espelho.
(comentário das obras de Lewis Caroll e do recente sucesso de Tim Burton na telona).

Adoro as várias acepções que a palavra refletir pode ter em nossa riquíssima língua... Posso usá-la no sentido de pensar, fazer uma reflexão sobre algum assunto , ao mesmo tempo em que posso usá-la no sentido de projetar minha imagem num espelho.
Interessante : refletir minha imagem num espelho pode levar-me a uma reflexão mais profunda, aquela em que eu me penso como sujeito, como ser.

Viva o espelho!

Reflito-me no espelho, mas o que ele me "devolve"?
Uma imagem que é minha, mas que não sou eu, apenas um fenômeno da Ótica...um fantasma de mim mesma?
 Sou eu, "ao contrário", invertida?
Sinto-me irremediavelmente por ele capturada: ainda que eu vire as costas, a imagem que está lá, lá fica , não me acompanha,será do espelho para sempre.Poderei estar com ela outras vezes, porém, ainda será a mesma de antes?
E que irresistível a tentação de analisar o espelho à luz da psicanálise, afinal, ela também não seria um modo de nos olharmos no espelho?
Uma grande contribuição de Freud foi trazer o inconsciente para o nosso dia a dia.
Mas as grandes contribuições da Psicanálise, em minha opinião,vieram de Jung, inicialmente discípulo, e que depois suplantaria o mestre. É dele a idéia de inconsciente coletivo, entre outras.
Especialmente essa, a do inconsciente coletivo, é fascinante, principalmente quando comentamos obras literárias como Alice no País das Maravilhas e Alice através do Espelho, de Lewis Caroll.
E é sobre esta segunda que gostaria de tecer meus comentários.
A recente estréia do filme de Tim Burton traz tempero especial a esse artigo, uma vez que este diretor tem um jeito especial de tratar certos assuntos.Infelizmente, muitos assistiram ao filme sem ter lido os dois livros.
Minha filha de 11 anos comentou:"Mãe, esse filme é baseado em Alice através do Espelho muito mais do que em Alice no País das Maravilhas." E ela está certa.
Na verdade, quando lemos o livro, vemos por que as versões para o cinema não deveriam ser nossa única leitura dos textos de Caroll, até porque são apenas duas (aliás são três,há uma versão bem antiga, filmada no início do século 20) das leituras possíveis.Mas, somadas à leitura dos livros, as versões para o cinema enriquecem ainda mais a  obra e nossas buscas e questionamentos a respeito dela...
Sem querer desmerecer o enorme sucesso editorial da publicação dessa obra para a época, - venda de 100.000 exemplares! - nos dias atuais, em que se lê muito pouco, podemos agradecer às leituras que Disney e Burton fizeram para a história de Caroll, pois foi graças a elas que esses dois volumes voltam a aparecer (e a interessar!) em nossas prateleiras.
Eu mesma, apesar de já ter duas versões, estou namorando dois recentes lançamentos de renomada editora brasileira: uma que apresenta as ilustrações originais e tradução premiada; e outra, comentada pelo maior especialista no autor.Simplesmente imperdíveis para quem quer se aprofundar em obras tão ricas de significados, muitos, infelizmente, perdidos na tradução, por falta de correspondente cultural em português - como as canções populares da época e  os trocadilhos ligados ao contexto histórico-social diferente dos dias de hoje-a Inglaterra vitoriana.Também ajuda saber que o autor era matemático consagrado e respeitado, que usou muitos desafios de raciocínio lógico e matemáticos ao longo do texto, muitos desses imperceptíveis ao leitor desavisado.
Grandes obras como essa  se tornam grandes sucessos justamente porque conseguem, entre outras coisas, serem universais e, por isso mesmo, atemporais.Sendo assim, ainda que haja elementos tão particulares do momento em que foi escrito,  Caroll conseguiu mexer com nosso ID (obrigada,Freud) e muito com o nosso inconsciente coletivo...(obrigadíssima, Jung!).
Um dos talentos que admiro em Tim Burton é o fato de que ele sabe como ninguém trabalhar com questões ligadas à nossa psiqué (não sei se ele o faz de maneira propositada ou se simplesmente é um gênio), mas me lembro de um filme em que ele trabalha de forma brilhante o papel da mãe: Coraline, filme baseado na história homônima de Neil Gaiman, famoso escritor de histórias dark.
Nesse filme, eu me lembro que a protagonista, assim como a da história de Caroll, passa para um outro mundo, (seria uma nova Alice?) onde seus pais são "mais legais", porém usam assustadores olhos de botão.
Embora não seja uma especialista em psicanálise, me parece que o túnel por onde passa Coraline para adentrar esta "outra dimensão" seja o útero materno.
Coraline também se parece muito com Alice, quando questiona o mundo em que vive e para o qual deseja mudanças.
Voltando ao inconsciente coletivo de Jung, tanto Coraline quanto Alice desejam muitas vezes transpor as barreiras da realidade em que vivem e buscam, em um outro mundo, ratificar (ou seria retificar?) os seus sonhos e medos.
Em suma, arrisco dizer que somos todos um pouco  Alices, atrás de  lindos coelhos brancos, irresistíveis Chapeleiros e assustadores, (mas aparentemente inofensivos), gatos Cheshire.
Uma análise psicanalítica de Alice certamente daria (como já deve ter dado) centenas de páginas, sem que se esgotasse o assunto.
Não é essa a minha intenção aqui, mas convido todos a lerem as duas obras, a verem os referidos filmes e a observarem, nestes textos,  quantos encontros - arquetípicos ou não - podemos travar, a cada linha, conosco mesmos.

Viva o espelho!

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